sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

A Taça de Chá

Certa vez citei o texto "A taça de chá", do Almada Negreiros, a fim de explicitar uma técnica de textualização que se vale de descrições de imagens. Hoje resolvi voltar ao texto e vou postá-lo. Não sei o motivo disto, mas deu na telha enquanto vinha para casa.

A TAÇA DE CHÁ

O luar desmaiava mais ainda uma máscara caída nas esteiras bordadas. E os bambus ao vento e os crisântemos nos jardins e as garças no tanque, gemiam com ele a adivinharem-lhe o fim. Em roda tombavam-se adormecidos os ídolos coloridos e os dragões alados. E a gueixa, porcelana transparente como a casca de um ovo da Íbis, enrodilhou-se num labirinto que nem os dragões dos deuses em dias de lágrimas. E os seus olhos rasgados, pérolas de Nanguim a desmaiar-se em água, confundiam-se cintilantes no luzidio das porcelanas.

Ele, num gesto último, fechou-lhe os lábios co'as pontas dos dedos, e disse a finar-se: — Chorar não é remédio; só te peço que não me atraiçoes enquanto o meu corpo for quente. Deixou a cabeça nas esteiras e ficou. E Ela, num grito de garça, ergueu alto os braços a pedir o Céu para Ele, e a saltitar foi pelos jardins a sacudir as mãos, que todos os que passavam olharam para Ela.

Pela manhã vinham os vizinhos em bicos dos pés espreitar por entre os bambus, e todos viram acocorada a gueixa abanando o morto com um leque de marfim.

A estampa do pires é igual.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Poema Branco



Óh, verso branco
onde está tua poesia?
Se está na simples metáfora
te troco por uma rima vazia
que seja um pouco mais bela.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Mil anos depois

Poderia começar falando de minha ausência. Ou então dos meus corriqueiros planos de ser mais presente a partir de agora. Me cansei de fazer isso, daí melhor evitar o assunto.

Tenho andando meio confuso sobre o mundo, sobre as pessoas, sobre os planos e tudo o mais que tem a ver com a vida. Daí que não tenho me preocupado muito em fazer planos neste ano previamento perdido. Decidi me dedicar mais aos planos que estão estabelecidos e que ainda estão por serem concluídos.

Pra este ano vou deixar por conta do carnaval, semana santa, copa do mundo, eleições e festas de fim de ano, que certamente vão consumir nossas energias, nossos interesses, os noticiários e os bate-papos intermináveis no butequins da vida. Não adiantaria muito tentar fazer diferente. Nem daria tempo!

O carnaval, como a semana santa, será, como sempre é, recheado de festas para uns, tragédias para outros e muito trabalho para policiais rodiviários e bombeiros. Nada que possa surpeender. A copa do mundo será, como sempre é também, uma disputa entre os favoritos de sempre e pode influenciar diretamente nas opções políticas do país, como sempre acontece. Desculpe a repetição, mas não me culpe, não é culpa minha. As eleições, como dito, devem ter uma desfecho nada muito surpeendente. Se vier a copa, dá a situação; se não vier, talvez um segundo turno. A oposição é fraca, inexpressiva e tão corrupta quanto o outro lado. Entre os dois polos da disputa, tavez a melhor opção seja a anarquia geral. "Ou não!"

E nada melhor que fechar o ano como começamos. Chuvas e feriadões recheados de festas, tragédias e trabalho. Sorrisos, lágrimas e suores.

Ano que vem não será diferente!