quinta-feira, 8 de setembro de 2011

São tolices o que penso sobre você...


"Um olá talvez
Mas para mim de nada vale
Isso estragaria
O meu "faz de conta""(Ira!)

Que tanto de bobagens tenho lido entre uma e outra coisa valiosa!

Terça me perguntaram se iria à marcha contra a corrupção. Logo terça, quando - por desventura - escutava no rádio um caso nada peculiar, mas bem intrigante. Uma ouvinte mandou carta à redação de um programa dizendo ser uma trabalhadora que busca alcançar vôos maiores na carreira, o básico. O primeiro andar, ou andaime, seria chegar ao posto de gerência numa revenda de automóveis, onde ela atualmente trabalha e onde tem como gerente uma amiga. Ou onde tem uma amiga como gerente. Dependendo do seu posicionamento, paciente leitor, uma ou outra opção pode ou não ser mais valiosa. Cabe-me apresentar as duas falsas amizades.



O motivo da carta residia na notícia de que, por descuido ou bobagem - pra variar -, a ouvinte sonhadora descobriu que a outra - a amiga - estava fraudando numerários e "tirando um por fora". Na boa e velha língua de Camões e para deleite dos velhinhos da Academia - alguma coisa, menos brasileira - de Letras, a gerente estava roubando. Dilema: denunciar a chefe e amiga no afã de bailar melhores tangos e alcançar o sonhado posto de gerência? Deixar pra lá, manter o cego e deixar o 'pau quebrar' para que 'alguém' descubra e denuncie e, então, correr atrás do sonho? Mandar uma carta pedindo sugestões a ouvintes de uma rádio?

Venceu a última, que era o que escutava na terça. Vou ser breve nesse relato, para evitar náuseas minhas. Pois isso me enoja. De umas dez pessoas que "deporam" e apresentaram suas teorias, um senhor disse que denunciaria para poder ocupar o cargo e receber um salário melhor. Todos os outros que ouvi, diziam que deixariam a 'chefe ou amiga' cair sozinha. Não importa, não denunciariam!

E aí me perguntam sobre corrupção na política, marcha contra a corrupção e etc. Dizia um adesivo de um tal Wilson Trópia que a crise no Brasil é de caráter. Tenho uma idéia velha: vamos alugar o Brasil. Tirar todo mundo daqui e encher de suíços, que tal? E aí combateremos a corrupção!

"Os estrangeiros
Eu sei que eles vão gostar
Tem o Atlântico
Tem vista pro mar
A Amazônia
É o jardim do quintal
E o dólar dele
Paga o nosso mingau..."

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Um novo dia




Os tênis surrados, conforme indicaram os amigos, estavam separados num canto junto à cama, onde perto esperavam a bermuda e a camiseta, propositalmente separadas para aquela manhã. Era a forma que encontrara para vencer o desânimo de toda manhã. Nem bem despertava o dia e os pássaros, a rotina da casa já assumia seu papel de carrasca. Acordava com o cansaço prévio do porvir de todo dia. Ainda assim inventou de fazer uma caminhada no início do dia, incentivada pelas conversas das amigas que diziam que aquilo as tornavam mais animadas. Decidiu experimentar na primeira oportunidade. Com os filhos na colônia de férias do clube que frequentavam, bastava cuidar do café do marido e partir para a pista de cooper, alí perto, em uma avenida do bairro.

Tinha dúvidas e até certo receio. Talvez fosse apenas um equívoco das amigas. Además, sabendo da casa à espera para cuidar, talvez se sentiria mais cansada no final do dia. Eram pensamentos a serem evitados. Decidiu que, assim que se levantasse, já vestiria o traje de modo a não dar tempo de receber os cumprimentos da preguiça. Assim o fez, e partiu a preparar o café do marido, com a disposição e o aspecto de uma maratonista. Passou pelo corredor e arrumou o quadro diante dos olhares questionadores do homem. Ganhou a cozinha, apanhou a cafeteira no armário, filtro, pó… os pães novos, ele, que também despertara cedo, havia trazido da padaria. Tudo pronto beijou os lábios do esposo e partiu antes das obrigações chegarem à mente.

A tabelinha que sua privilegiada genética fazia com seus bons hábitos alimentares lhe garantiam desde sempre uma esbelta silhueta. Evidenciada pela justa bermuda e pela camiseta, não demorou para, na caminhada, despertar discretos e famintos olhares. Não dava bola, não estava ali para aquilo. Nem mesmo para manter a forma. Desejava apenas se certificar do que falavam as amigas e os médicos da TV. Decidiu caminhar por seis quilômetros na pista que tinha três no total. Uma ida e uma volta.

Havia muita gente, árvores, vento no rosto ondulando ainda mais os movimentos do cabelo negro, preso como um rabo de cavalo; e muitos insistentes olhares de admiradores e admiradoras desconhecidos. Sentiu um sorriso fugir-lhe aos lábios quando um rapaz jovem deixou escapar um suspiro ao se cruzarem. Seguiu seu caminho enquanto o moço voltava o pescoço em sua direção. Estava satisfeita com o objetivo conquistado e se convenceu que fazer aquilo todos os dias não seria difícil se comparado às atividades solitárias de todas as manhãs e tardes, em casa.

Chegou, foi ao quarto e despiu-se. Se mirou no espelho e certificou que o jovem tinha razão, ela realmente estava com um corpo bonito. Colocou os tênis no mesmo lugar de onde os tirou naquela manhã. Apanhou novas roupas, as dobrou e deixou ali perto, junto à cama para a manhã seguinte. Vestiu-se com as roupas de todos os dias e finalmente foi receber os cumprimentos matinais da preguiça e do cansaço que sempre lhe fizeram companhia nas manhãs e tardes.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Re Solteiro




Pior que a dor de cabeça da ressaca, é lembrar que é segunda-feira e que o mundo não parou como deveria. Ou melhor, como você achou que pararia no primeiro copo. É, amigo, o mundo não para e temos que seguir em frente, mesmo com aquele desejo íntimo de um gênio aparecer com sua lâmpada mágica e te conceder três pedidos: cerveja, mulheres e que o tempo não passe mais. Segundona... e já começou mal.

As roupas estão lavadas, graças à bendita máquina de lavar. Essa maravilhosa invenção que, segundo João Paulo II, “fez mais pelas mulheres que o feminismo”. Só disse isso porque nunca se casou. Por conseqüência, também não se separou. A máquina de lavar fez mais pelos homens separados que Newton pela física. Trata-se de um equipamento que só não é mais brilhante por não entregar a roupa seca, passada e dobrada. E convenhamos, o mistério de como passar uma simples camiseta é guardado pelas mulheres de uma forma tão secreta, que chega a provocar inveja aos maçons. Para nós, homens, um avião é mais simples de pilotar que o maldito ferro de passar. A primeira conclusão pós-separação é de que você precisa de mais roupas de tecidos sintéticos, que não amassem.

O café da manhã vai te fazer perceber duas maravilhas da modernidade: a cafeteira e o forno de microondas. Na primeira se coloca água na medida em que deseja o café, e coloca-se o pó de café de acordo com o manual. Bingo, café pronto em cinco minutos, na medida exata e sem erro. O forno de microondas merece destaque especial. Trata-se do seu melhor amigo dentro da casa. Para melhorar, só lhe falta latir e abanar o rabo. Nele você aquecerá o leite, o almoço, o jantar, ou preparar aquela lasanha congelada que você comprou na padaria, por preguiça de cozinhar para uma só pessoa. Trata-se de um solucionador de problemas. Mereceria um cômodo só para ele, na casa, devido à gratidão que devemos ter com quem nos alimenta.

Café da manhã e paracetamol devidamente tomados, é hora de encarar seu primeiro dia de trabalho com o novo status de situação civil. A fofoqueira da empresa de certo vai reparar na ausência da aliança e fará a notícia correr pelas mesas e ramais. Não se preocupe, é possível utilizar isso a seu favor.

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