sábado, 6 de março de 2010

Sutis, as palavras



Tenho que ficar atento às palavras que me anotam.
Limpar de novo os tímpanos. Sutis, elas ressoam
e se apagam sem alarde.
Se não as escrevo, as essenciais,
não terei como dar notícia de você em mim.

As palavras, com o tempo
tornam-se suavíssimas, de seda.
Há que recolhê-las
no casulo das tardes outonais.

Ouvir a única palavra, sem impurezas.
Não se trata de burilá-la, e sim surpreendê-la.
Palavras estão passando como pássaros invisíveis,
mas cantantes.

Tento segui-las,
não só com o olhos, mas pelo alarido
de suas penas no papel.

As palavras vêm em bandos.
Algumas pousam em ruínas,
saltam de galho em galho,
mostram e escondem sua face
e buscam outras páginas, bocas e quintais
fazendo pensar que é delas
o alarido que é meu.

(Affonso Romano de Sant'Anna)

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